A semente do bem

Congregação Mariana

Por ocasião de seu 5º aniversário de fundação, a Congregação Mariana da Anunciação redigiu para o jornal A Tribuna, de Santos/SP, o artigo abaixo (a ortografia foi adequada às regras atuais):

A Tribuna, 12 de março de 1921
"Há cinco anos, no dia de hoje, o revmo. padre José Visconti, S.J., do Santuário do Coração de Jesus, nesta cidade, fundava a Congregação Mariana, que, desde então, vem ganhando forças, caminhando, crescendo, a ponto de contar, atualmente, bom número de aderentes, entre os quais conhecidos cavalheiros de nossa melhor sociedade. Esta instituição, que está destinada a prestar ótimos serviços à nossa terra, adota os moldes das instituições congêneres, conservando nela o duplo aspecto religioso e civil, para que, por esse meio, ela sirva à fé, à família, à pátria, à humanidade.

As Congregações Marianas tem uma longa história, cujas origens remontam ao século XVI; e, remodeladas, através do tempo, por concessões e graças pontifícias, elas tem agrupado milhares e milhares de adeptos, entre os quais se hão contado membros de famílias reais de diferentes países, estadistas, médicos, advogados, estudantes, artistas e, numa escala social decrescente, até o humilde operário. Atualmente, essas instituições estão disseminadas  por todo o mundo e em toda a parte, nos círculos  em que fazem sentir a sua esfera de ação, tem prestado e continuam a prestar serviços inestimáveis à Igreja, à família e aos meios sociais em que operam.

As Congregações não têm exclusivamente, como se disse já, fim puramente religioso; elas estendem seus benefícios à educação moral e intelectual da infância, à formação do caráter – o que é precípua necessidade, mormente em meios trabalhados pelo vício, pela corrupção e pela licença – à educação espiritual do adulto, à subtração dos lodos sociais dos que ainda podem ser susceptíveis de regeneração, ao aprendizado das regras salutares tanto na igreja como na sociedade, de maneira a que o congregado seja um homem íntegro, de uma moralidade inatacável e capaz de converter ao seu grêmio os que andam desavindos das boas normas sociais – atolados nos volutabros do vício e do pecado. Essas Congregações trabalham pelo livramento justo dos presos, reconciliam inimigos, põem termo às discórdias, cortam o andamento a processos injustos, reúnem e socorrem os pobres, os mendigos, os impossibilitados de trabalho, doutrinam os vadios, visitam os enfermos, atendem aos necessitados, assistem aos moribundos, enterram os mortos – exercem, enfim, em todos os sentidos, os grandes deveres da caridade cristã e da fraternidade humana. Compreende-se, assim, a utilidade de instituições tais, que, sob a disciplina religiosa e as exortações constantes dos seus diretores espirituais, espalham por toda a parte a semente do bem, para que ela germine, se converta em árvore umbrosa e dê sazonados e saborosos frutos.
Sobre a larga e dupla missão – religiosa e civil – destas congregações haveremos, por nós e por nossos colaboradores, oportuno ensejo de dizer mais extensamente do assunto; por agora, basta dizer as Congregações Marianas são de todo o ponto úteis, não somente à Igreja, mas à sociedade em geral, desde a formação do caráter na criança, à disciplina moral das pessoas singulares e coletivas. São, pois, instituições que não se aferram exclusivamente aos preceitos e deveres religiosos, mas trazem da Igreja cá para fora, a orientação moral e espiritual que norteia os indivíduos e as sociedades pelo rumo da verdade, da justiça e do bem.
Desta arte, a obra do padre Visconti é digna de apoio e louvor, por isso que contribui para a melhoria da espécie humana e para a organização de sociedades dignas – serviços estes que sobrepujam os que são atribuídos a benemerências políticas e a outras de idêntico estofo.
É pensamento do fundador da Congregação Mariana entre nós adquirir terreno para a construção de uma sede social, que corresponda às crescentes necessidades da instituição; atualmente, ela funciona em meio acanhado e suas reuniões ressentem-se de escassez de espaço. Trata-se da sede civil, porque a sede religiosa continua a ser mantida no Santuário do Coração de Jesus. Acreditamos que nosso público, sobretudo o nosso comércio, sempre pronto a auxiliar e animar as obras boas, não se recusará a tornar realizáveis os justos desejos do rev. Padre Visconti. Afinal, tudo bem compreendido, trata-se de trabalhar para nós mesmos, para o aperfeiçoamento dos nossos sentimentos, para a observância das melhores normas sociais, para a educação moral e intelectual da nossa infância – tão desregrada que ela vive por aí – para o império, cada vez mais soberano, da moral individual e coletiva, para a melhoria da nossa espécie, para a nossa crescente elevação espiritual e social. É obra dignificadora e para a qual não devem ser recusados cooperação e apoio.
Cabe-nos, agora, felicitar o rev. Padre Visconti pelo esforço que tem empregado na obra que em boa hora iniciou, e que há cinco anos já permanece em constante progresso, felicitações que estendemos a todos os congregados pela ajuda que de espontânea vontade tem dado à Congregação Mariana, convencidos todos como estão de que se empenham em trabalho útil, duradouro e de conseqüências altamente salutares."